28.9.06

Banalidades Tóxicas

Mais um dia – daqueles – em correria absoluta, de telemóvel na mão e máquina fotográfica na outra, táxis, mails, preocupações, responsabilidades, acção e isto de ser humano é de facto difícil. E porquê? Não estão à espera que divague pelas profundezas da filosofia higiénica de folha dupla. É difícil, porque a cabeça resiste mas o corpo é que paga. Resolvi então dar um intervalo ao meu sopro congénito, taquicardia, escoliose e cifose residentes. (eu sei..sou um must…há ferro-velho em melhor estado). Para além de humana e viver à cometa, tenho a mania de fazer coisas diferentes, resolvi então comer uma singela sandes de queijo num sítio diferente, que não num café ou numa tasca. Em plena Avenida da Liberdade, entro no São Jorge. Sento-me numa varanda com vista para o centro do monóxido de carbono. Peço a tal “sandes de queijo” e trazem-me talheres e um guardanapo de pano…assustei-me, claro. Considerei, por segundos, pedir um empréstimo bancário. Claro que acabou na mania da sofisticação contraditória: uma sandes de pão de mafra com três dias, queijo de hipermercado/marca branca, salada, molho em copo de shot, talheres tão pesados como o próprio Marquês de Pombal e uma banda sonora fantástica. Enquanto mastiguei arduamente vi: ambulâncias, carros de polícia, transporte de presos a toda a velocidade, polícia de choque, polícia de mota…só faltou um carro funerário.
Tive medo de pedir um café mas arrisquei…não ficaria admirada se viesse um almofariz com grão de café para ser moído na hora. Café normal, de chávena estreita onde não entra qualquer nariz.
Adorei inalar toda aquela poluição, nunca me senti tão feliz e despreocupada por fumar um cigarro, diria mesmo que ali é um vício saudável.
Já agora, alguém sabe se as árvores da referida avenida são verdadeiras? São plásticas ou estóicas?

Por 9: Malapata

Tenho vivido tão depressa que o “Gordon” comparado comigo é alentejano. É tudo tão intenso, o mês…interminável. Sempre impliquei com o mês de Setembro, é a chamada “malapata mensal”. Em criança: era aquele mês estúpido que nunca mais passava depois de umas férias intermináveis…ansiava o primeiro dia de aulas…só mesmo o primeiro, não se comovam.
Em jovem universitária: o mês que anunciava directas, cigarros, frequências, trabalhos e que conhecíamos os professores (nem sempre são experiências agradáveis, palavra de discente!).
Em jovem/adulta e lá o que me consideram agora: Setembro significa perdas.
….e depois nunca sei o que vestir, calçar…ninguém percebe qual é a “season” do indesejado 9…que a única coisa gira que pode ter, é ser múltiplo de 3, e eu gosto do 3.

14.9.06

Raindrop

Chegou o terror dos incêndios e dos pirómanos: CHUVA! É sempre um prazer trabalhar com chuva, frio, vento, trovoada, neve e todas as condições meteorológicas que não convidem a uma escapadinha à praia, ou uma saída estratégica do emprego para uma boa esplanada. O melhor da chuva é estar em casa a ver os outros passar…é verdade, não há aqui sadismo…quantas vezes já sentiram o prazer de um sofá como observatório da desgraça alheia? E o conforto desmesurado quando de chuva passa a dilúvio? Não discuto que vertam uma lágrima seca aos pobres que correm, que lutam com o guarda-chuva, que saltam do passeio quando o autocarro da Carris faz questão de libertar a estrada das poças de água…mas não evitam o regojizo do estuque que vos abriga.

6.9.06

Férias significa:

Restaurantes (preferidos) fechados
Amigos Ausentes
Malas, tralhas e roupa ao monte
Livros que se começam e que não acabam
Praias atolhadas e areia nos pés
Incêndios e alertas laranjas
Aumento das taxas de juro sem que ninguém dê por nada
Jornais magros e demasiado leves
Filas intermináveis nos aeroportos
Condutores nas auto-estradas inexperientes
Acidentes e GNR em força
Tempo para pensar
Digerir problemas e criar novos problemas dos problemas anteriores
Mais sugestões?
Pior…quem tem férias é porque trabalha, logo se não está de férias vai trabalhar, logo era preferível não ter férias para não ter a perspectiva de que se trabalha.
Somos feitos de hábitos…e os curtos só nos desabituam.

O Ventrículo da Vida

Tenho um amigo que acaba de me contar que vai ser operado ao coração: tem um buraco. Curiosamente é cirurgião geral e fala de si como de uma canalização se tratasse…de escrita ligeira explica que: ou fecham o buraco ou mudam a válvula e que vai ser doloroso porque lhe serram o externo.
Pior que estar doente é ser médico e doente. A ignorância nestes casos é o soneto e não a emenda.
Imagino-me no lugar dele: serram, cosem e mudam a válvula. Digamos que encarava o massacre na perspectiva do talho e do mecânico da esquina. No lugar dele, tendo conhecimento teórico e prático, prevendo as complicações, o pós-operatório, a vida que se segue, as dores, o…cá está, já tinha ido primeiro que a anestesia…porque pior que um buraco no coração é um buraco na alma (palavra que atribuímos ao que não conseguimos explicar, já me sinto incomodada de usar a palavra alma uma vez que de tanto ser usada e mal, perdeu a alma do significado).
Agradeço que o meu continue a bater, que não entupa, nem se engasge…mas por vezes aperta e dói.