24.10.07

Memórias de Inverno II

Um simples sapato ou um sapato simples? Tudo o que é desprovido de complexidade ou é conseguido de forma natural e tudo o que depende do próximo, é-nos vedado como um atacador de nó consumado. Pedro, o engraxador, esperava que um sapato lhe contasse por onde tinha andado, o que tinha experimentado...que cada marca no couro lhe revelasse as emoções e histórias fantásticas de quem o visita.
- Têm sempre pressa e poucos cá passam...já ninguém engraxa sapatos, perderam o brilho...
- ...nos sapatos?
- Não. Esses, dizem, são o espelho de cada um...mas se estão gastos , baços...sujos...descurados...Nós é que andamos a perder o brilho.
Olha-se e não se vê.
Fala-se e não se sente.
Vive-se e apaga-se.
Está frio, mas descalço-me.

1 comentário:

Inês Mesquita disse...

muito boa história [eu tenho ido às amoreiras ao sapateiro, umas botas que metem água, uns sapatos para alargar... não vou pensar mais na metáfora..]

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